Introdução Histórica
Vou propor
uma parábola:
“... Um homem entrou no escritório do
medico e disse: — Doutor, tenho uma terrível
dor-de-cabeça que nunca vai embora. O senhor poderia me receitar alguma coisa
para ela?
—
Sim — disse o médico, — mas quero checar algumas coisas antes. Diga, você bebe muita bebida
alcoólica?
—
Álcool? — disse o homem, indignado. — Nunca chego perto dessa porcaria.
—
Fuma, então?
—
Acho cigarro nojento. Nunca na minha vida provei um.
—
Fico meio constrangido de perguntar isso, mas... sabe como alguns homens
são... você vive aí pela noite?
—
Claro que não! Quem o senhor acha que eu sou? Estou na cama toda noite
antes das dez.
—
Diga-me uma coisa — pediu o médico. — Essa sua dor-de-cabeça é de um tipo
agudo e penetrante?
—
Isso mesmo! — disse-lhe: uma dor aguda e penetrante.
—
Então é simples, meu caro. Seu problema é que a sua auréola está apertada
demais. Só precisamos soltá-la um pouquinho...”.
Texto:
Lucas 18:9-14 “... Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si
mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:
10 Dois homens subiram ao templo com o propósito
de orar: um, fariseu, e o outro, publicano.
11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te
dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem
ainda como este publicano;
12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de
tudo quanto ganho.
13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar
os olhos ao céu, mas batia no
peito, dizendo: Ó Deus, sê propício
a mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua
casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se
humilha será exaltado...”.
Alguns podem achar heresia,
que achem, não me importo mais, eles não vivem minha vida, e nem vivem a sua,
esse assunto é para aqueles que não possuem mais esperança em si mesmos, que
mesmo escondendo de todos, existe uma decepção interna esmagadoramente dolorosa,
é também para aqueles que ocultam os mesmos problemas com uma aparência mais serena
e perfeita de “vida espiritual” diante dos homens.
Mas falando da
“heresia” existiu um sábio frustrado com esse tipo de gente, namorou uma
“crente” filha de pastor, conviveu em uma casa de “crentes” e de tando ouvir
falacias e nada de vida expressou:
“... Eu prefiro ser
esta mertamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre
tudo...”.
Esse farizeu citado
por Jesus no texto, foi uma forma de espelhar a alma falida da religião, da
igreja; os chamados religiosos enchem o peito e falam de si mesmos, e seus
grandes feitos pelo reino, temtam provar que a aprovação de Deus está
relacionada com sucesso material, com saúde ou um templo cheio de seguidores.
O farizeu do século
21, assenta-se nos púlpitos e observa o povo, usa a neurolinguística e diz ser
revelação, aponta o dedo para a multidão e faz afirmações óbvias, conhece o
povo e julga aqueles que estão com problemas, questiona:
Você não veio na
tarde da bênção? Então perdeu a bênção!
Como se Deus tivesse
hora marcada com ele...
Terça é dia da
cura... Quarta é dia da prosperidade... Quinta é dia da revelação...
“... Uma vez fui
convidado para cantar em uma grande igreja em São Paulo, nessa época eu apenas
compunha e cantava, o templo era grande e naquele dia era dia de santa ceia e
para minha surpresa a igreja estava praticamente vazia, umas poucas pessoas
cerca de 10 porcento de sua capacidade.
O pastor ao final do
culto veio me pedir desculpas:
- Querido irmão, Esqueci
que era santa ceia, você veio em um dia “fraco” hoje é ceia não veio quase
ninguém, venha na quinta feira que é dia da revelação a igreja estará cheia.
Voltei nequela quinta
e para minha indignação e surpresa, não tinha lugar para sentar no templo,
milhares de pessoas à espera de serem reveladas, o pastor apontava uma a uma,
fileira por fileira, trazendo um “recado de Deus” para cada uma. Eu em voz
baixa já indignado com tudo aquilo, pedi a Deus:
- Pai tudo está
muito estranho para mim, não parece que você tenha algo a ver com isso, se de
fato estou certo, não quero ser “revelado” me esconda dos olhos desse homem.
Eu estava na
terceira fileira, e por mais que tentasse, eu era o cantor da noite, já havia
cantado, não tinha como não me ver; naquele dia alguns amigos me levaram lá, de
forma que ao meu lado todos eram meus amigos.
Quando o pastor
chegou em nossa fileira, apontou o dedo um a um aos meus amigos mas quando
chegou minha vez, pulou e foi para o outro...
Meu pesar para
aquela noite desperdiçada é que eu deveria ter pedido para Deus esconder meus
amigos também...
Deveríamos ter ido a
um cinema ou um barzinho ou mesmo ter ficado em casa assistindo TV e comendo
pipoca...”.
Enquanto isso está
acontecendo, mesmo hoje, nas madrugadas pessoas perdidas vagueiam de um lado
para o outro em busca de satisfação, até a encontram mas é provisória, no outro
dia a enxaqueca da ressaca por se lambusarem em pedras, pó, fumaça, alcool,
sexo e tudo que se tem de melhor em prazer e êxtase.
O publicano era e é
um desses.
O escritor Brennam
Manning diz a respeito desta afirmação de Jesus:
Brennam Manning diz:
“... O problema com
nossos ideais é que, se vivermos de acordo com todos eles, nos tornamos pessoas
com as quais e impossível se conviver.
A auréola torta do pecador
salvo é vestida com folga e com graça fluente.
Descobrimos que a cruz realizou muito mais do que revelar o
amor de Deus. O sangue do Cordeiro aponta para a verdade da graça: o que não podemos fazer por nós mesmos Deus
fez por nós.
Na cruz, de alguma forma, de alguma maneira, Cristo levou
sobre si nossos pecados, assumiu nosso
lugar, morreu por nós.
Na cruz, Jesus
desmascara o pecador não apenas como mendigo, mas como criminoso diante de Deus.
Jesus Cristo tomou sobre si nossos pecados e levou-os embora.
Não somos capazes de lavar a mancha de nossos pecados, mas
ele é o Cordeiro que tira os pecados do mundo.
Por que ele morreu?
Mas a resposta parece muito fácil, muito pronta. Sim, Deus
salvou-nos porque nos amou. Mas ele é Deus.
Ele tem uma imaginação infinita. Ele não poderia ter sonhado
uma redenção diferente? Não poderia Deus ter nos salvado com um sorriso, com um
espasmo de fome, uma palavra de perdão, uma única gota de sangue?
E se ele tinha de morrer, então pelo amor de Deus — pelo amor
de Cristo — não poderia ter morrido num leito, morrido com dignidade?
Por que foi condenado como um criminoso?
Por que suas costas foram esfoladas pelos açoites?
Por que sua cabeça foi coroada com espinhos?
Por que ele foi pregado à madeira e deixado para morrer numa agonia lenta e pavorosa?
Por que o seu último suspiro foi dado
em meio à sangrenta desgraça, enquanto o mundo pelo qual ele se oferecia instigava
os seus algozes com fúria selvagem?
Por que eles tinham de se dar bem?...”.
Porque a gente tem
que se dar bem?
Desfecho: I João 4:10 “...
Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos
amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos
pecados...”.
Propiciação: ação ou ritual com que se procura agradar uma divindade, uma força
sobrenatural ou da natureza para conseguir seu perdão, seu favor ou sua boa
vontade.
Sacrifício ou oferenda
que se faz para aplacar a ira dos deuses.
Lucas
18:13 “... O publicano,
estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia
no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício
a mim, pecador!.”
Eu pergunto:
Estamos batendo no
peito à procura da propiciação de Deus, ou legislamos em causa própria pelo
merecimentos por “serviços prestados” no Reino?
Em que lugar dessa
parábola nos encaixamos?
Qual dos dois
personagens somos nós?
Qual o tamanho de
nossa auréola?
A auréola do fariseu
cheio de verdades absolutas e currículo invejável, pessoa certa para casar,
“integra”, de ilibada reputação, tanto religiosa como pessoal, um nascisista ao
extremo, capaz de quase, mas por muito pouco, rejeitar propiciação da cruz, por “quase não ter erros”?
É essa que nos serve
e causa enxaqueca espiritual?
Ou será a auréola do
publicano que sente dores terríveis, não pela auréola apertada, mas dores por
todo o corpo, da planta do pé até o último fio de cabelo, tudo dói, uma
vergonha só, como nas raras vezes se expressa: – eu sou um lixo! Seria essa?
Pode parecer cômodo
ser o publicano, assumir poeticamente que batemos no peito clamando por
aceitação divina, mas a realidade que vem com esse ser desprezível é
proporcional ao seu pesar doloroso.O publicano a que Jesus referia era homem
corrupto, mentiroso, bêbado, fumante inveterado, viciado em baladas, sexo,
drogas, prostituído, homicida, adúltero de mente e corpo, vagabundo com mente
profana,suja e cruel.
Este é um
superficial perfil do publicano referido por Jesus, mas algo aconteceu na vida
desse homem que o fez entrar na igreja, talvez pela primeira vez em sua vida,
algo de muito terrível o empurrou para o templo que foi alvo de muitas de suas
piadinhas preconceituosas.
Alguma coisa o
abateu, o derrubou de tal forma que ele não tinha mais nenhum lugar onde
poderia ir, essa queda, esse “fundo do posso” o fez olhar para cima, pois para
baixo não tinha mais nada em que se afundar.
Essa miserável
inquietação o fez refletir e concluir que não tinha mais solução, nada do que
fisesse iria mudar sua vida, decepcionado com o que viu diante do espelho,
talvez depois de uma overdose que quase o levou a óbito, esse homem saiu em
disparada para a primeira igreja que viu na frente.
Entrou sem se
preocupar com a vista dos homens, estava maltrapilho, e logo foi identificado
pelos burocratas religosos, mas não se importou, não ousou assentar-se e sujar
os bancos, em pé mesmo, no fundo do salão, no cantinho à esquerda, no último
lugar esse homem batia no peito, chorava e
pedia a Deus “propiciação”, não pedia perdão, não se achou digno de
alcançá-lo com palavras.
Sentia que o que
havia feito até aquela hora tinha deixado Deus muito zangado e que nada do que
fisesse o salvaria, e de fato não salvaria, então clamou por sacrifício, clamou
para Deus assumisse seu lugar (Sê Propício a mim).
Segundo as palavras
de Jesus no verso 14, Deus atendeu o pedido, o homem saiu justficado pois o que
narrava a história era a propiciação...
Agora ele é um
pecador salvo, prostrado em adoração, perdido em assombro e louvor. Não
consegue acreditar que Deus fez isso, mas aceita.
“... O arrependimento não é o que fazemos para obter o perdão; é o que
fazemos porque fomos perdoados...”.
“... O Arrependimento serve como expressão de gratidão em vez de esforço
para obtenção do perdão...”.
“... Portanto, a seqüência: perdão primeiro e arrependimento depois (e não arrependimento primeiro,
perdão depois) é crucial para a compreensão do evangelho da graça...”.
Amazing
Grace!