Ilustração
CONTA-SE A HISTÓRIA de um casal de judeus muito piedosos. Haviam se casado com grande amor, um amor que nunca morreu. A maior esperança deles era ter um filho; assim, o amor poderia caminhar sobre a terra com alegria.
No entanto, enfrentaram dificuldades. Por serem muito religiosos, oravam com perseverança. Como resultado de outros grandes esforços, imagine só, a esposa concebeu. Quando soube que estava grávida, riu mais alto do que Sara ao conceber Isaque. A criança agitava-se em seu ventre mais alegremente do que João no de Isabel quando Maria a visitou. Nove meses depois, um garotinho encantador veio ao mundo.
Deram-lhe o nome de Mardoqueu. Era impetuoso, espirituoso. Devorava cada dia da vida e sonhava durante a noite. O sol e a lua eram seus brinquedos. Cresceu em idade, sabedoria e graça, até chegar a hora de ir à sinagoga e aprender a Palavra de Deus.
Na noite anterior ao início dos estudos, os pais disseram a Mardoqueu quão importante era a Palavra de Deus. Enfatizaram que, sem ela, Mardoqueu seria como uma folha solta ao sabor do vento. Ele ouviu com grande atenção. No entanto, no dia seguinte, não foi à sinagoga. Em vez disso, foi para a floresta, nadou no lago e subiu nas árvores.
Quando chegou em casa, naquela noite, a notícia havia se espalhado por todo o vilarejo. Todos tinham tomado conhecimento de sua atitude vergonhosa, e os pais concordavam com aqueles que o criticavam. Não sabiam o que fazer.
Assim, chamaram os disciplinadores para mudar o jeito de ser de Mardoqueu até que não houvesse nenhum comportamento nele que não tivesse sido modificado. Mesmo assim, no dia seguinte, ele foi para a floresta, nadou no lago e subiu nas árvores. Então, recorreram aos psicólogos, que derrubaram os bloqueios mentais de Mardoqueu. Mesmo assim, no dia seguinte, ele foi para a floresta, nadou no lago e subiu nas árvores.
Os pais ficaram aflitos pela situação daquele filho amado. Parecia não haver nenhuma esperança. Nessa mesma época, o Grande Rabino visitou a vila. Os pais disseram: "Ah! Talvez o Rabino resolva". Então levaram Mardoqueu ao Rabino e contaram sua história dolorosa. O Rabino disse, com firmeza: "Deixe o garoto comigo, terei uma conversa com ele".
Já era muito ruim o fato de Mardoqueu não ir à sinagoga. Mas deixar o filho amado com aquela fera de homem era aterrorizante. Contudo, tendo chegado a esse ponto, resolveram deixá-lo. Agora Mardoqueu estava no corredor e o Grande Rabino, em seu gabinete. Ele o chamou, acenando: "Garoto, venha aqui". Tremendo, Mardoqueu se aproximou. Então, o Grande Rabino o pegou e abraçou junto ao coração, em silêncio...
Os pais foram buscar Mardoqueu e o levaram para casa. No dia seguinte, ele foi à sinagoga para aprender a Palavra de Deus. Quando acabou, foi para a floresta — A Palavra de Deus se uniu às palavras da floresta, que se uniram às palavras de Mardoqueu. Ele nadou no lago. A Palavra de Deus se uniu às palavras do lago, que se uniram às palavras de Mardoqueu. Ele subiu nas árvores. A Palavra de Deus se uniu às palavras das árvores, que uniram às palavras de Mardoqueu.
Assim. Mardoqueu cresceu e se tornou um grande homem. Pessoas tomadas pelo pânico vinham a ele e encontravam paz. As solitárias vinham a ele e encontravam comunhão. Gente sem esperança vinha a ele e encontrava uma saída. E quando alguém o procurava, ele dizia: "Aprendi peia primeira vez a Palavra de Deus quando o Grande Rabino me abraçou em silêncio perto de seu coração".
O coração é tradicionalmente considerado o centro das emoções, a partir do qual surgem os sentimentos mais fortes, como o amor e o ódio. Entretanto, essa descrição simplista do coração como base das afeições o limita a apenas uma dimensão do "eu" integral. E claro que isso não é tudo o que temos em mente quando oramos: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro" (Sl 51:10); nem o que Deus quis dizer quando falou pela boca de Jeremias: "Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei" (Jr 31:33); ou o que Jesus quis dizer quando falou: "Bem-aventurados os limpos de coração" (Mt 5:8).
O coração é o símbolo que empregamos para captar a essência mais profunda da pessoalidade. Simboliza aquilo que reside no centro de nosso ser, define, de modo irredutível, quem somos de fato. Só podemos conhecer e ser conhecidos quando revelamos o que está no coração.
Quando Mardoqueu ouviu o pulsar do coração do Grande Rabino, ouviu mais do que a sístole e a diástole de um órgão humano palpitante. Ele penetrou na consciência do Rabino, adentrou sua subjetividade e veio a conhecê-lo de uma forma que abarcou intelecto e emoção — e os transcendeu. Um coração falou ao outro. Pense nesta afirmação provocativa de Blaise Pascal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece".
Texto
João 13:23-25 – Um de seus discípulos, aquele a quem ele amava, estava reclinado próximo a Jesus.
24 - Simão Pedro fez sinal a este, dizendo: - Pergunta de quem o Mestre está falando.
25 – Reclinando-se aquele discípulo sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?
A paixão...
A palavra paixão significa basicamente: “ser afetado por”, e é a energia essencial da alma.
Somente um “afetado por” seria capaz de vender todas as suas posses para comprar um campo com tesouro enterrado ou a Grande Pérola.
A questão, o cerne é ser “afetado” por essa energia que o Reino dos Céus produz.
Paixão não é saber tudo sobre o Reino é ser afetado por Ele...
Paixão não é fazer as contas do “lucro certo”, é ser arrebatado no íntimo, é ter a mente subjugada. Tudo mais parece inútil se comparado.
A idéia das duas parábolas que se completam não é o que o homem abre mão, mas a razão de assim fazê-lo – a esmagadora experiência da descoberta.
Assim é o Reino de Deus – o efeito da boa nova irresistível que enche o coração, outrora vazio, de felicidade mudando assim completamente o curso da vida e produzindo o mais sincero sacrifício próprio.
O vício...
Vamos transpor a parábola do tesouro para um tom moderno. Na virada do Ano existe o “prêmio da virada” da loteria federal, 144,9 milhões foram concorridos na virada de 2009 para 2010, João da Silva (nomes fictícios) ganhou sozinho, ele é um professor de colégio de trinta anos, ganhou os 144,9 milhões. Imediatamente pegou um avião de Brasília para São Paulo, para reatar com a noiva Maria de Jesus. Em entrevista ao jornal, João diz disse: "Nos dois primeiros dias estávamos talvez mais temerosos e intimidados do que exultantes. De forma geral, as coisas estão começando a se tranqüilizar; estamos contentes".
Seria presunçoso dizer que João e Maria "afetados por" seu destino, e que ganhar o prêmio da Loteria despertou-lhes a paixão na alma? Uma paixão idêntica à do camponês na parábola?
João e Maria tinha 180 dias, após o sorteio, para requerer o prêmio. Entretanto, vamos supor que sejam fãs alucinados de esportes. Ficam tão extasiados com seus times em busca do título e com a disputa da grande final, que se esquecem de requerer o prêmio. Os 180 dias expiram, e eles perdem 800 mil mensalmente, pelos próximos vinte anos.
Qual seria seu veredito para o jovem casal?
Imbecis???
Minha resposta seria a mesma, embora temperada com compreensão e compaixão.
Fazemos exatamente isso!
A servidão cega deles era para os esportes; e a nossa?
Consigo me identificar com a imbecilidade deles. Privaram-se de uma fortuna por causa de seus times.
E quantos de nós nos privamos do tesouro por causa dos nossos compromissos importantes?
O tempo todo sabemos o paradeiro do tesouro, mas o desprezamos por nossas pérolas de vidro...
A mesquinhez de nossa vida é devida, em grande parte, à fascinação com as quinquilharias e troféus do mundo irreal que é extremamente distante.
Baladas, Expôs, Sexo, drogas, bebidas alcoólicas, busca desenfreada por dinheiro, prazer e poder, mesmo uma religiãozinha, suprimem a consciência da presença do Jesus ressurreto.
A dedicação religiosa após esses distúrbios ou “eventos” não consegue apagar a ausência aterrorizante de significado para a vida; não que esses eventos ou distúrbios tenham em si o vício, mas qualquer uma dessas coisas que nos aprisione, que nos faça trocar o tesouro real pela bijuteria.
Qualquer que seja o vício, entorpece a capacidade de sermos afetados por Jesus.
Quando não somos profundamente afetados pelo tesouro ao nosso alcance, a apatia e a mediocridade são inevitáveis. Para que a paixão não se degenere em nostalgia ou sentimentalismo, ela, como fonte, precisa ser renovada. O tesouro é Jesus Cristo, ele é o Reino dentro de nós.
Somos afetados pelo Reino de Jesus?
Fomos de fato “afetados por”???
Aquele a quem Jesus amava...
Não podemos deixar essa cena passar desapercebida em busca de revelações profundas no texto, ou então perderemos a essência do que João tentou transmitir em meios as informações que julgou importante registrar para nosso conhecimento e nossa salvação.
Seu objetivo na essência foi no “afetar”.
O cântico que cantamos:
TU ÉS O SENHOR, O REI DOS REIS,
TODO PODEROSO,O SENHOR DAS LEIS.
DEUS EMANUEL, O GRANDE EU SOU,
PRÍNCIPE DA PAZ QUE RESSUSCITOU.
VENCEU NA CRUZ DANDO SALVAÇÃO,
TRAZENDO VIDA, PAZ E LIBERTAÇÃO.
ÉS O ALFA, O ÔMEGA, PRINCÍPIO E FIM,
SALVADOR, MESSIAS,
“TU ÉS TUDO PRA MIM”.
TODO PODEROSO,O SENHOR DAS LEIS.
DEUS EMANUEL, O GRANDE EU SOU,
PRÍNCIPE DA PAZ QUE RESSUSCITOU.
VENCEU NA CRUZ DANDO SALVAÇÃO,
TRAZENDO VIDA, PAZ E LIBERTAÇÃO.
ÉS O ALFA, O ÔMEGA, PRINCÍPIO E FIM,
SALVADOR, MESSIAS,
“TU ÉS TUDO PRA MIM”.
Tem que ser uma declaração de que fomos “afetados”...
A passagem de João 13:23-25 não pode ser uma menção histórica, mas uma declaração espontânea que esse Deus, que adoramos acima, permitiu que um jovem de vinte e poucos anos deitasse em seu peito, permitiu o aconchego, permitiu o toque, sem o menor preconceito ou nojo dos pecados humanos.
Ao narrar o evangelho, João fala de si mesmo como: “aquele a quem Jesus amava”, para ele o cerne do cristianismo não eram as doutrinas que herdou mas a própria experiência de ser “o amado de Jesus”.
Considerado o “apóstolo do amor” suas declarações não eram firmadas em textos ou cursos ou discursos, mas no toque.
Reclinado no peito de Jesus...
Reclinar no peito do Mestre, do Grande Rabino transcende nossa condição de pecadores inveterados.
Jesus jamais falou:
- Limpe-se então, encoste-se, ou: - Afaste-se, você cheira a pecado...
Ele jamais recusou ser tocado, essa menção é feita nos dias de hoje pelas pregações de “falsa santificação” onde sentir o poder, os “raios de trovões” de um Deus que se ira com qualquer coisa que o homem faça, é a verdadeira fé, e a verdadeira salvação.
Reclinar-se no peito de Jesus independe nossa condição humana.
Reclinar-se no peito de Jesus é encostar em seu peito e mais nada, seguros, felizes, sendo limpos e perdoados a cada batida de seu coração.
As batidas do coração de Jesus precisam se unir com nossa alma e com nosso espírito.
O “grande prêmio”, o “tesouro escondido”, a “Grande Pérola” nos espera pacienciosamente, mas o “ser afetado” precisa acontecer.
Precisamos sair da religiosidade rasa e ir para o profundo.
Temos que parar de agir como Pedro: - Pergunta pra Ele...(João 13:24),
E ir direto em seu peito sem medo, sem o detestar-se.
DESFECHO – I João 1:1 - O que realmente importa:
“...O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos tocaram, isso proclamamos com respeito ao Verbo da Vida...”.
Recuperar a paixão que foi perdida por algum “vício humano”.
Essa recuperação começa com a recuperação do “Eu” como “amado de Jesus”.
Se perguntássemos a João qual é sua primeira identidade, o senso mais coerente que você tem de si mesmo?
Ele não responderia: Sou Discípulo, Apóstolo, Evangelista, mas :
- “...Sou aquele a quem Jesus ama...”.
Enquanto eu não deitar no peito de Jesus, escutar as batidas de seu coração, lançar fora todo o medo (I João 4:18), me apegar ao perfeito amor, minha fé e religião são sem proveito, é vazia, é morta.
Mas não é nada que Jesus não possa ressuscitar, fazer florescer mesmo num galho seco, ou um monte de ossos.
Jesus é mestre em transformar pó em homens.
O que era desde o princípio, que fez do pó o homem, que faz do pó do homem vida e vida em abundância...
O que ouvimos em nossos pensamentos, em nossas canções, em nossos encontros.
O que vimos com os nossos olhos, em meio ao caos da vida, pela criação, pelo inexplicável, pelo cosmos ou por minha existência pensante...
O que contemplamos em nossas vidas quando “afetadas” por seu amor, quando lembramos da cruz, de seu maravilhoso olhar...
O que as nossas mãos tocaram, como leprosos espirituais, como anêmicos em meio as nossas hemorragias emocionais.
O que diante de tudo isso permite o toque, o encostar-se em seu peito...
Ver Jesus em carne e osso foi um privilégio extraordinário mas “...Felizes os que não viram e creram... disse Jesus”.
Isso proclamamos com respeito ao Verbo da Vida.
Quando voltamos a nos reclinar no peito de Jesus, ou começamos a experimentar essa intimidade, esse “afetar” nos impulsiona a proclamar, a espalhar essa notícia, para todo o lugar:
“... Quando Jesus estendeu a sua mão,
Quando Ele estendeu a sua mão para mim,
Eu era pobre, perdido, sem Deus se Jesus,
“Quando Ele estendeu a sua mão para mim...”.
Se, estamos “afetados por” esse homem, é impossível se calar.
Não existe vergonha que nos pare.
Não existe maldade que nos impeça.
O Verbo da Vida, o Grande Mestre, O Tesouro Escondido, A Grande Pérola, o Meu Tudo vale a pena ser Proclamado.
Você pode experimentar
Você pode.
Fonte: Parte dos textos foram extraídos do Impostor que Vive em Mim e o Obstinado Amor de Deus de Brennan Manning.