Introdução Histórica
Eu nasci
na grande São Paulo e parte de minha infância foi em meio a arranha céus,
apartamentos, casas de COHAB e os famosos cortiços, ao contrário do que o nome
possa parecer não era favela ou lugar sujo, é um terreno grande que nossa
família possui onde várias casas são construídas de forma que abrigue toda a
família, descendentes de espanhóis a família da parte de minha mãe tinha um
desses cortiços, como na Espanha onde se mora junto, todos possuem suas casas,
porém dividem o terreno, o tanque e o banheiro e lá havia vários; um banheiro
para cada casa, mas diferente de hoje os banheiros eram construídos fora da
casa, de modo que parecia um vestiário.
Lembro que
era divertido brincar naquele lugar, meus primos de vários graus, meus irmãos
todos nós brincávamos no “quintal comunitário”, para nós crianças uma festa,
todos os dias o quintal cheio de crianças, brincando, totalmente seguras dentro
dos muros, lembro das brincadeiras à noite, foi uma fase boa tirando o sufoco
financeiro que nós tínhamos e alimentação difícil, para quatro irmãos a casa de
dois quartos era bem apertada, o quintal então era nosso playground particular,
uma extensão das casas apertadas.
Lembro de
um detalhe curioso sobre São Paulo e é assim até hoje, é quase impossível ver
estrelas, quando brincávamos à noite não se via o céu estrelado como posso ver
hoje.
Lembro que
via algumas estrelas, as mais brilhantes, quando o céu estava limpo de poluição
ou nuvens, era possível contá-las e não chegava a uma centena delas.
Lembro-me
das viagens que fazia para o interior do estado onde hoje moro com prazer,
lembro-me quando ia para os sítios, adorava correr no “terrerão” e observar as
estrelas, milhares de milhares no céu, ficava encantado, como tinham tantas, no
começo em minha infância eu achava que o céu do interior tinha mais estrelas
que para o lado de São Paulo, um pontilhar incontável de pontos de luz no céu,
simplesmente maravilhoso.
Existem
hábitos que não devemos perder, hoje ainda olho para o céu, agora morando num
ponto privilegiado da cidade, posso observar a luz da cidade e o céu estrelado,
ouço os animais silvestres diurnos e noturnos, acordo com os pássaros e por
vezes alguns animais silvestres aparecem em minha varanda.
Quando
paro para observar nosso céu como fazia desde criança fico ainda maravilhado
com a quantidade infinita de estrelas, desisti de contar a muitos anos, mas
quando me lembro das vezes que as tentei contar lembro-me também de uma
promessa, lindíssima, uma das formas mais lindas que Deus a fez a um homem, a
história é poética, possui um descrever todo especial, uma comunicação clara,
sem parábolas dos objetivos infinitos de Deus.
Olhar para
o céu é um hábito humano, sempre foi e imagino que num mundo sem poluição como
era na época de Abraão, sua visão do céu noturno devia ser estonteante.
Deus o
chamou para uma comunicação pelo seu hábito, Abraão assim como eu e você tinha
o hábito de admirar o céu noturno e toda a sua beleza e mistérios.
A vida
corrida, o conforto moderno, o stress, a vida acelerada nos fazem parar de
observar o céu, esquecemos de admirar a grandeza do infinito da criação de
Deus, um hábito que nos leva ao entendimento, à reflexão de que o ser que criou
tudo isso é infinitamente maior e capaz de fazer, de cumprir suas promessas,
apesar de nossa limitada visão, apesar de nossa vida à margem da vontade D’Ele.
Texto: Gênesis 15:1-6 “... Depois destes acontecimentos, veio a
palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu
escudo, e teu galardão será sobremodo grande.
2 Respondeu Abrão: SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo
sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?
3 Disse mais Abrão: A mim não me concedeste
descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro.
4 A isto respondeu logo o SENHOR, dizendo:
Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu
herdeiro.
5 Então, conduziu-o até fora e disse: Olha
para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a
tua posteridade.
6 Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi
imputado para justiça.
No sítio é
uma característica o recolher-se quando anoitece, não é só descanso é proteção,
é segurança, o escuro encobre a visão, gera mistérios, e uma casa segura e
iluminada é um bom lugar para se passar a noite até o dia nascer.
Em
Apocalipse 3:20 “... Eis que estou à porta e bato...”. “... Se alguém ouvir a
minha voz e abrir a porta Eu Entrarei...”.
Deus bate
à nossa porta e aguarda ansiosamente o convite para entrar, enquanto escrevo
estas linhas meu pensamento me fez observar que quando leio ou me lembro deste
texto, nunca imaginei Jesus batendo à porta de dia, sempre visualizei este
texto à noite, como um convite para entrar e encontrar abrigo da noite, como um
abrigo para Jesus que está ao relento esperando que alguém o ouça e o convide
para entrar e se aconchegar, banhar-se, alimentar-se.
Não é um
pensamento herético sobre a fragilidade de Deus, vejo este texto como
esvaziamento, como uma das formas de Deus diminuir-se para ter relacionamento
com o homem, uma forma de diminuir distâncias de construir pontes.
No texto de
Gênesis Deus fez o contrário convidou Abraão para fora à noite, me questiono
quantas vezes atendemos a este tipo de convite.
Sair do
lugar de conforto, desligar a TV, o computador, o celular ou o vídeo game e
simplesmente dar uma volta com Deus pela rua à noite.
Você
desligaria esses apetrechos eletrônicos e sairia para um lugar escuro pelo puro
prazer de caminhar com Deus?
Foi o que Deu fez com
Abraão, ele havia recebido uma promessa da parte de Deus que de sua
descendência surgiria uma grande e poderosa nação, porém sua idade foi
avançando e sua esperança diminuindo.
Em uma conversa íntima
com Deus em sua tenda, ele abriu seu coração, falou que não tinha herdeiros e
que quem continuaria sua descendência seria um escravo nascido em casa.
Um detalhe sobre essa
passagem é o fato de que Deus estava dentro da tenda a conversar habitualmente
com Abraão e eu pergunto:
Quantas vezes por
semana Deus te tem feito uma visita para um papo íntimo dentro de sua casa?
Vou reformular:
Alguma vez Deus te
visitou?
Vou corrigir:
Você já ouviu Deus
bater em sua porta para uma visita?
Deus já era morador daquela
casa, e durante as conversas noturnas à beira da lamparina Abraão abria uma
preocupação legítima sobre sua vida, ele começara a achar que não teria filhos,
que não haveria herdeiros e como amigo de Deus teve liberdade em expor seus
sentimentos reais.
Você expõe seus
pensamentos para Deus, não me refiro à capacidade de Deus saber tudo o que
pensamos, pergunto se você conversa com Deus e expões o que pensa, por mais
absurdo, feio ou infantil?
Deus é seu amigo?
Seja sincero, é mesmo?
Então porque tanta frustração,
tristezas, caras de desânimo e decepção com a própria vida?
Porque esse rostinho
de emburramento e solidão?
Um fato
importantíssimo sobre a forma de ver a vida é o relacionamento que temos com
Deus, se Ele não faz parte de sua vida, não o espere pela chaminé com saco
vermelho cheio de presentes, mesmo porque, Ele não quer a surpresa do presente
que encontramos embaixo da árvore de natal, ele quer assentar-se à mesa e olhar
em nossos olhos, Ele não quer entrar e sais à surdina.
“... O convite para
dar uma volta lá fora é uma extensão de um relacionamento que já existe dentro
da casa, afinal ninguém aceitaria o convite de sair para fora de um estranho e
eu pergunto: Deus é um estranho para você?.”.
Uma característica daquele que está preocupado ou desanimado é a
prostração, quando estamos assim não olhamos para cima, olhamos para o chão, em
qualquer lugar do planeta essa é uma reação comum, olhamos para baixo, é uma
expressão de desilusão, de stress, é automático.
Não é errado olhar para baixo, o errado é derrotar-se por manter
os olhos no chão.
Faz um tempo que comecei a treinar Jiu Jitsu, no começo fiz para
ter um tempo com meu filho que gosta muito do esporte e leva o maior jeito, eu
o levava para treinar e sempre dizia a ele que esse esporte não era para mim,
não gostava de ficar preso, sou claustrofóbico e só de imaginar sentia aflição.
Mas um dia no treino só meu filho foi e o mestre me chamou para
fazer também, relutei, neguei, mas como vi meu filho só ali, resolvi fazer para
somar na aula, daquele dia em diante me tornei não só admirador, mas praticante
do esporte.
O faço para adquirir resistência física e aliviar o stress, a
preparação é excelente e tenho metas de saúde a atingir para ter qualidade de
vida no futuro, ainda tenho pouca resistência, mas estou melhorando, para mim é
agradável sentir a disposição resultante dos treinos.
Num desses treinos uma turma de amigos apareceu em casa e eu tinha
que treinar, eu resolvi então chamar todos para o treino e eles toparam, fomos
todos e foi muito divertido, depois dos aquecimentos fomos “rolar” (lutar), um
dos amigos “rolou” comigo, mas eu estava muito cansado e num momento da luta
desisti e dei a vitória a ele, o mestre que observava tudo atentamente quando
me viu desistir me disse:
- Você perdeu para você
mesmo!
“... Esse é o problema com quem olha muito tempo para baixo, perde
para si mesmo, desiste, principalmente se à sua volta não há mais ninguém...”.
Você tem perdido para você mesmo?
Minha dificuldade hoje é um braço engessado que quebrei caindo de
uma escada, vou aos treinos e fico ali babando de vontade, mas não resisti, os
últimos dois treinos acabei praticando com gesso mesmo, cansei muito e estava
limitado, mas ainda assim foi prazeroso praticar.
No último treino o mestre avisou que iríamos exercitar uma séria
para nos dar ritmo e cadência, foi muito intenso, e eu tinha o agravante o amigo
gesso, mas um dos exercícios marcou minha mente.
Tínhamos que deitar no chão ao lado do parceiro de bruços e rolar
por cima do parceiro de forma a ficar costas com costas e cair do outro lado,
tudo rápido e num salto, o mestre contava acompanhando e eu não via a hora de
chegar a dez onde normalmente ele parava as contagens, mas naquele foi
diferente.
Quando cheguei a dez parei automaticamente com a satisfação de ter
cumprido a etapa, mas o mestre gritou:
- Onze! Vamos! Onze!
Eu achei que era uma de suas brincadeiras, mas ele insistia e eu
obedeci, mesmo com o gesso, apoiava o cotovelo no chão e me arremessava nas
costas de meu filho, também deitado no chão e rolava por cima dele e caía do
outro lado. Sinceramente achei que ia me dar um enfarte, sei lá, o coração
acelerou e eu achei que não conseguiria dar mais nenhum salto mas para minha
surpresa cheguei aos vinte!
O mestre me falou:
- Viu!
- Você queria parar nos dez achando que não conseguiria mais e
você foi aos vinte!...
Tive a nítida impressão que eu ouvira a voz de Deus naquele homem,
a reflexão foi automática, e a surpresa também, tanto Deus como o mestre
queriam me mostrar que eu posso muito mais do que penso de mim mesmo.
Você pode muito mais do que pensa, portando tenho uma coisa a
dizer para você:
- ONZE!!!
Deus quando tem acesso, quando é parte de nossas vidas age da
mesma forma, estamos em meio a problemas, com o olhar para baixo e
repentinamente Ele grita mais alto:
- Onze! Onze! Vamos! Onze!
“... Nós confundimos aconchego com desistência, o pouco hábito que
temos de falar com Deus é para chorar as mágoas esperando que Ele nos pegue no
colo e cante: ‘Encoste sua cabecinha no meu ombro e chore’, uma boa parte de
nossos “chorororôs” são manhas de covardia para enfrentar a vida, Deu não nega
seu colo, porém ele sabe se é manha ou preguiça e se é, inevitavelmente o
ouviremos dizer:
- Onze! Onze! Vamos! Onze!...”.
Nós confortavelmente vamos chorar dentro de casa e Deus vem com um
convite digno de um ser infinito:
“- ... Vamos dar uma voltinha lá fora?...”.
Ele nos leva para fora de nossos muros de proteção emocional, no
escuro da vida e quando começamos a ter sentimento de medo Ele diz:
“... Olha para cima! Conte as estrelas!...”.
“... Deus fez isso com Abraão Ele disse:
- Olhe para cima e conte as estrelas e acrescentou, essa será a
quantidade de seus herdeiros legítimos, você não os poderá contar, e sempre que
sentir medo olhe para as estrelas e tente contá-las, lembrarás que o Ser que as
criou e sabe quantas existem é quem fez a promessa. Não desista para você mesmo,
você pode mais do que isso...”.
Desfecho: Texto: Jeremias
12:5 “... Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás
competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que
farás na floresta do Jordão?...”.
Claríssimas como águas, sonoras como o trovão posso ouvir Deus gritar essas palavras:
- “... Onze! Onze! Vamos! Onze!...”.
Ora sejamos francos, não temos Deus como
amigo.
Ele não faz parte de nossas vidas.
Quando faz é para ouvir nossas lamúrias.
Não temos o prazeroso hábito de conversar
com Ele, aprendemos na falida religião que para falar nesse nível com Deus é
preciso muita preparação, jejuns, orações, aprendemos que quem tem esse tipo de
intimidade é o Líder, que Deus lhe revela tudo e ele (o líder) é nosso
“mediador” entre nós e Deus.
Aprendemos que só através de nossos líderes
temos acesso de qualidade e intimidade com Deus, que em casa não, só na igreja.
Escutamos e presenciamos os absurdos de que
essa ou aquela igreja é detentora do poder de Deus, a igreja que tem o dever de
facilitar o acesso do homem a Deus, escolhe quem tem esse acesso e rejeitam a
maioria dos interessados, os de cabeça baixa.
Interessante que Deus veio exatamente para
esses, os desesperançados, os pecadores e perdidos, marginalizados pela
religião.
E novamente quando a igreja não interfere,
não abafa seus gritos, claramente ouvimos Deus dizer através deste raciocínio:
- “... Onze! Onze! Vamos! Onze!...”.
A igreja diz que você não pode, que só é
possível depois de muito preparo, depois de atingir a tal distorcida e
equivocada “santidade” e Deus está a dizer:
- “... Onze! Onze! Vamos! Onze!...”.
- “... Você pode correr com gente que corre
a cavalo! Acredite! Pare de chorar e comece a correr!..”.
- “Olhe para cima, conte as estrelas, essa
é minha promessa, os homens te frustram, te fazem olhar para baixo, porém Deus
diz olhe para cima...”.
Deus tem uma convicção a nosso respeito
muito maior do que temos de nós mesmos, Ele nos fez com a estrutura e
capacidade de disputar com cavalos e nós nos prostramos todas as vezes que as
coisas não vão muito bem.
Eu o desafio a fazer de Deus seu amigo
íntimo, independente do que sua igreja, e líderes disserem sobre isso, desafio
você a sair dessa massa de manipulação e ir direto a Deus, ou melhor, deixar
Deus vir direto a você e entrar em sua vida.
E depois disso O deixar dizer:
-
Vamos dar uma volta lá fora, no escuro.
-
Olhe para cima!
-
“... Onze! Onze! Vamos! Onze!...”.
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