segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Brincando de Deus


Introdução Histórica
Antes mesmo de uma introdução histórica sobre as palavras de Jesus e seu propósito neste e para este mundo, inicia-se minha “digressão histórica”:
Já faz algum tempo que a escrita faz parte de meu cotidiano, descobri que sou mais intenso com o texto que com a oratória, uso as duas semanalmente, a primeira requer dedicação, meditação e disciplina, a outra, como diz o ditado que na realidade é um ensinamento de Jesus: - A boca fala do que o coração está cheio! E soma-se ainda que aquele que consegue frear a própria boca é homem perfeito, sem erro algum; a oratória é mais complicada de se controlar, então a levo mais leve, mais cômica.

Soma-se a isso alguém que a vida toda detestou a língua portuguesa... Sempre admirei os cálculos são exatos e não possuem regras para terem exceções, e isso nossa língua é mestra em suas regras e exceções e seus “SS” e “XC” “Ç” acabei por não ser tão bom na arte, mas à “3” anos comecei a escrever, acabei por simpatiza mais com a língua, mas confesso que ainda é difícil escrever sem erros.

Agradeço ao Word meu amigo que me corrige na maior parte dos erros, mas como não é perfeito (nem ele entende tudo)... Você com certeza achará algum “defeitinho” em minhas linhas, mas como um bom “corneta”, os erros só vão incomodar quem os procura, mas se sua leitura for para identificar a própria vida, nem perceberá que no próprio texto acima eles passeiam livremente dentro da licença poética (outra exceção às regras) ou não...
O texto pode conter apelo emocional, mas minha predileção ou orientação espiritual é a crítica aos nossos dias, nossa vida, minha vida e nossa tão idolatrada religião, mesmo em minha oratória da semana não vou dizer o que se quer ouvir, isso é adulação política e como não estou atrás de voto... O verbo é solto e às vezes a acidez das palavras, irritam os mais afoitos adoradores das placas e dos templos.
Se é que serve de algum consolo aos irritadiços, não há nada nessas linhas que nossa comunidade não ouça aos domingos, essas mensagens em texto são meus discursos aos domingos, ou palestras ou sermões como preferir.
Passei a vida toda como rato de igreja, defendendo o queijo e apontando os erros dos outros, repentinamente há 3 anos Deus me derrubou de meu cavalo manga larga da religião; como eu era hipócrita, apontando a idolatria alheia e sem perceber que adorava meu cavalo...
Caí de cara num chão de espelho e tive que me olhar de cara amassada, sem minha pompa do título dado pelos homens, no chão diante do mundo e da vida, fiquei completamente perdido, e meu orgulho engomado ficou parecendo aqueles panos velhos de limpar o chão.
É tão curioso o tal do religioso, é exatamente o macaco que enrola o rabo e aponta o dos colegas, adoramos ser comparados a Paulo, mas não queremos assumir que ajudamos a apedrejar os “Estêvãos” e pior, continuamos a fazer, não admitimos que dentro de nós temos muito mais de Saulo, mas só caído de cara no espelho a gente assume, ou não...
Ainda estou me recuperando da queda, não teve nenhuma fratura grave, mas a cara ficou bem amassada e a maquiagem foi totalmente destruída, confesso que para alguém que nunca tinha se visto no espelho sem a boa maquiagem da religião, foi à visão do inferno, quase me expulsei de mim mesmo, acho que fiz isso, quando me vi de verdade tive um choque muito grande, não foi fácil olhar para traz e ver que em décadas de religiosidade tive algumas horas de vida real como servo de Jesus.
Digressão encerrada.

Quando era garoto minha família mudou da capital para o interior do estado, eu adorava o interior com seu verde, seus animais selvagens, o ar que em cada lugar parece ter gosto diferente, as águas, os peixes, a pesca, a caça (antigamente permitida).
Ir para o sítio era o paraíso, correr, brincar no barro, pular no rio, correr atrás das galinhas, mergulhar no milho debulhado do paiol, subir nos pés de frutas e comê-las in natura, alimentas os animais, andar a cavalo, derrubar caixas de marimbondo e sair em disparada fugindo deles.
Lembro-me das noites sombrias regadas a “causos” de assombração e mistérios que nos fazia correr para dentro da casa e dormir rapidinho para a noite passar.
Lembro das lamparinas, dos jogos à mesa, sem TV ou Computador nem Vídeo Game muito menos internet, talvez isso te dê arrepios só de pensas em um mundo assim Neandertal.
Tinha uma diversão minha e de meus amigos com formigas Saúva ou as Cortadeiras, uma praga para os lavradores, mas para nós quanto maiores melhores para a brincadeira.
Costumávamos pegá-las e irritá-las, quando elas estavam bem bravas as colocávamos uma contra a outra pala lutarem, vencia quem ficava inteira, mas a gente escolhia quem iria morrer.
Colocávamos normalmente a maior por cima da menor e encaixávamos sua tesoura no pescoço da outra, quando a de cima cortava a cabeça da outra a luta encerrava (lógico...).
Sem a intenção brincávamos de Deus, escolhíamos quem viveria e que teria a cabeça cortada, um instinto ao julgamento, à manipulação, ao poder, à vontade, algo dentro de nós fazia isso, era prazeroso uma viver e outra morrer.
De crianças a adolescentes, com nossos estilingues atirando nos pássaros, a esmo, sem a necessidade da caça, só o prazer de matar de acertar o alvo e deixá-lo lá, eu nisso era péssimo, não acertava nada, sorte para os bichos.
Quando jovens agora era a vez dos carros, e motos, cavalos de pau, empinadas, pneus cantando, gel no cabelo, pelo menos enquanto eu os tinha, agora as formigas não tinham mais graça, nem os pássaros, o alvo eram as garotas.
Novamente meu jeito Jeca desengonçado não ajudava muito, fui namorar com 18 anos, uma tragédia para beijar, pior que o estilingue, mas diferente dele aprendi direitinho e aí foi o caos, sempre religioso, na igreja me tornei “o perigoso”, o Pastor ia logo avisando minhas namoradas: - Cuidado com as mãos desse rapaz...
Novamente brincando de Deus, ou melhor, de demônio, ia tentando e insistindo até seduzir por completo, naquela época, diferente de hoje, para conseguir “alguma coisa” tinha que ter compromisso, e ainda a resistência era imensa, não tinha essa de:
- Vi, gostei peguei...

Como religioso, sempre mantendo as aparências, aprendi muito bem com meus líderes, em suas mensagens apontando os erros dos “idólatras”, dos que não eram “avivados”, dos que eram “avivados”, dos que proibiam tudo, dos que liberavam tudo, dos que criam em outras vidas, dos que assistiam as novelas, dos que ouviam músicas “do mundo”, dos que fumavam, dos que bebiam, das que se vestiam calças, das que usavam brincos.
Se o batom era vermelho demais, se cabelo foi cortado, se não usava terno, se subia no “idolatrado púlpito” sem a “maldita gravata”, uma prova de “respeito” a Deus e sua santidade, na realidade um simbolismo de escravidão, é só puxar pelas pontas, já tem o nó, já está amarrado, na coleira.
Podem ser de seda, importadas, caríssimas, mas para mim são coleiras em volta do pescoço e nada tem a ver com submissão a Deus.
Quem dera se o problema da religião nos dias de hoje, fosse o que se usa, o que se come, o que se bebe...
A religião se tornou o juiz dos homens, e cada uma o julga do seu jeito, todas o condenam de alguma forma, e a maioria afirma com seus “peitinhos de pombo inflado” saber quem será salvo e quem será condenado.
Há quem julgue as outras religiões, e ainda que professem a mesma fé, expõem Jesus ou vitupério, anulando batismos e batizando novamente como “prova de verdadeira mudança”, como se no tanque tivesse alguma “água mágica” que: - Agora sim você nasceu de novo. Entra seco e sai molhado...
O que é isso? Não era para salvar os perdidos? Agora se salva os achados?
 Mas diante de tantos absurdos e falácias humanas maquiadas de Deus, Jesus nos chama ao eixo e diz:

Texto: João 12:46-50 “... Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
47  Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
48  Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia.
49  Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar.
50  E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo...”.

  01 – Brincando de farolete:

Antigamente ter um farolete à pilhas era artigo de luxo, ou extrema necessidade, já que a luz elétrica não chegava aos sítios, usar o farolete do Tio era raro, todos queríamos segura-lo, e durante o tempo que o pegávamos, o Tio ficava ali, cuidando para não quebrá-lo, e nós crianças cada um segurava um pouco, e se desse briga, o farolete era guardado, cada um tinha nas mãos o controle temporário da luz...
Adultos na fé, hoje sem aquela mesma infantilidade da brincadeira do farolete, brigamos pela luz, afirmamos que temos o controle dela, que ela é exclusiva nossa, não admitimos, mas lá no fundo cada uma das placas religiosas pensam que é a certa e única.
Hoje farolete é barato, compramos com o troco do pão e se queremos mais luz, gastamos um pouquinho mais e lá está, um farolete bem mais forte.
A brincadeira inocente da luz hoje dá lugar à impossível coexistência de diferentes pensamentos e se estamos “perdendo terreno” compramos um farolete mais forte... Reformamos o templo, melhoramos a fachada, som, contratamos músicos melhores, usamos ternos mais caros, fazemos cursos de oratória, neurolinguística, teologia avançada, Lipo-aspiração, Peeling.
Inventamos novos conceitos e embasamentos teológicos para nossas técnicas de marketing a fim de atrair os “mariposas” da fé, sempre dependentes de nossos faroletes movidos à pilhas velhas, carnais e humanas.

Verso 46 – Jesus afirma ao mundo que veio como luz, para tirar o homem das trevas, porém sua igreja, sua noiva tem sido abusada por essas práticas “pirofágicas” de conceitos humanos.
“... Faz tempo que a amada igreja se divorciou do Salvador, resolveu acender luz própria, anulou a luz do evangelho simples de Jesus por algo mais brilhante, deixou de ser vaso de barro faz tempo, criou os próprios caminhos, túneis intermináveis, labirintos infinitos para que o homem não ache a liberdade, não questione e não peça reformas...”.

02 – Martelo de Juiz ou de Leiloeiro?

Essa é uma pergunta sem resposta certa, todas as alternativas levam ao erro, um dos martelos é para fechar um bom negócio, quem dá mais leva:
 - “... Quem prega melhor me leva para sua igreja, quem tem louvor melhor me leva, se eu fizer parte do ministério de música eu vou para sua igreja, eu tenho chamado pastoral, eu sou líder, eu sou, eu sou...”.

Interessante como nunca ouvi falar de algum cristão que dissesse:
 - “... Sou um servo, limpo banheiros como ninguém, adoro durante o louvor, ficar de joelhos na salinha do fundo intercedendo pelos músicos...”.

- “... Se vocês me ajudarem a me libertar da fofoca eu vou para sua igreja, se me ajudarem a mentir menos, a não trair, a parar de roubar, desde que vocês nunca me coloquem em algum cargo para que não me ensoberbeça eu aceito o convite...”

- “... Eu tenho problemas sérios no meu casamento e preciso de tratamento, eu preciso de cuidados especiais e de boa companhia senão quando ninguém me vê eu apronto de tudo, coisas dignas de um canalha...”.

Essa é a verdade, infeliz verdade, eu já fui assim, e ainda sou muito de tudo isso, só aceitei ser líder no início dessa comunidade se o título e o cargo me fossem dados, não estava a fim de montar cama para ninguém, quando caí do cavalo, a primeira coisa que resolvi fazer foi pedir demissão e destituição de meu título e cargo, entreguei a igreja, eu não conseguiria conviver com a ciência de que o que tinha era “fruto de um acordo carnal”.
Hoje continuo na mesma função e na mesma comunidade, fiquei porque o grupo que me restou acreditava mais em mim do que eu mesmo; agora vivemos conscientemente que nossa falibilidade é imensa e que dependemos exclusivamente da Luz de Jesus para não nos perdermos novamente.

 O martelo de Juiz é diferente, muito provavelmente se você está suportando tudo até agora e seu coração ainda é religioso, sua espera é para que ao final desta, dar um parecer condenatório sobre o assunto se nenhum auto-exame.

“... A tão famosa Lady Igreja de Cristo, em sua pompa majestosa, se esqueceu que ainda não se casou com o Salvador e posa por ai de esposa mandona, com seus horríveis bobs e grampos de cabelo, máscaras de creme e fatias de pepinos nos olhos cujos mesmos não servem para mais nada a não ser olhar as rugas alheias...”.

É fácil o hábito de julgar, se não o fosse Jesus não teria alertado sobre esse vício terrível. Agora no verso 47 uma marreta muito bem usada, nas nossas cabeças duras de teologias falidas, um grito alto que tentamos abafar e asfixiar com nossos travesseiros de penas de pavão colorido do norte da Europa:
 - “... Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo! Porque vocês que deveriam continuar o que comecei estão julgando e condenando? De onde acharam ter tal autoridade? Quem vos constituiu juízes? Eu respondo foi Lúcifer!..”.

“... Sejamos honestos, essa paráfrase acima é toda de Jesus, nada inventado agora, tudo está lá, nos Evangelhos, nas tais “boas novas”, as palavras duras D’Ele só trazem reação de autodefesa e raiva a fariseus bem lubrificados a óleo de peroba, se fôssemos verdadeiros conosco, essa seria uma boa hora para ajoelharmos e confessar toda essa podridão que temos em nosso interior maquiada de Religião.

  03 – Reinventando a Graça.

Nem é preciso prolongar muito, nos versos 49 e 50 Jesus afirma ter uma prescrição do que deveria falar, “Tim-Tim por Tim-Tim”, pode buscar em qualquer tradução, seu sentido é exatamente esse, não tem nada escondido, Jesus afirma na tradução contemporânea que “... o Pai que me enviou me prescreveu...” parece coisa de médico e é.
Um mundo perdido, uma igreja corrompida, ambos doentes, Jesus veio com uma prescrição médica de remédios e dietas específicas para cada enfermidade, e ambas as doenças levam à morte.

Jesus reafirma “... como o Pai me disse assim falo..., nada mais nada menos...”.

A igreja deste século está a reinventar a graça, métodos infalíveis de todos os tipos, cada um para seu fim, vende ingressos para as primeiras filas da revelação, de cura, de libertação, problemas amorosos entre outros.

Graça difícil de receber, não basta apenas crer, tem que dar tudo, mas muito pior que dinheiro é dar a inteligência, sem o menor esforço de perguntar o porquê das coisas, pois perguntar é rebelião.
Eu vi amigos íntimos com alto grau de inteligência sucumbirem a essa entrega e hoje, como zumbis controlados, simplesmente fazem, executam, não perguntam, trocaram a escravidão do mundo pela escravidão religiosa.

Minha preocupação pessoal com essa chamada igreja de Jesus hoje é quando a perseguição religiosa acontecer, e os templos forem queimados e os padres, pastores, bispos, apóstolos forem mortos.
Acredito que muitos desses títulos tão adorados serão jogados fora pelo instinto de sobrevivência e a massa religiosa hoje manipulada, a correr como loucos para todos os lados sem uma mínima base para não negar a própria fé.

   Desfecho: Texto: João 12:46 “...Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.

De volta ao início... Não olhem para mim, ou para suas placas religiosas e seus líderes cheirando a gordura de orgulho ranço, olhem para Ele – Jesus – o único autor e consumador de nossa fé, essa menção nem sequer fala dos heróis da fé de Hebreus 11, ou menciona algum apóstolo, nem mesmo Pedro cuja Basílica está sobre seu túmulo, apenas Jesus, o simples Jesus, Ele mesmo...

   Texto: Salmos 34:4-6 “... Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores.
5  Olhai para Ele, e sede iluminados e o vosso rosto não ficarão confundidos.
6  Clamou este pobre, e o SENHOR o ouviu e o salvou de todas as suas angústias...”.

Olhemos para Ele, toda confusão passará, assumamos nossa condição de pobre, esse texto acima é do rei Davi, homem que descobriu a graça, não a inventou, não reinventou.
Reconheceu seus pecados, assumiu a culpa e olhou para o lugar certo, olhou para Jesus.
Davi não fundou uma religião, apenas se religou a Deus, Como rei de uma nação se auto intitulou “este pobre”.
Não invocou a Deus como Rei, mas como servo, como pecador foi rejeitado pelos homens, mas aceito por Deus e seu amor.
A condição de Agraciado não é daqueles canonizados porque realizaram algum milagre, a condição de Agraciado é para o “pobre”, este pobre.
É para aquele que clama devido à própria miséria e não para aquele que faz um sinal.
Joguemos fora nossos martelinhos da fé, nossas arcas furadas de Noé, saiamos de nosso mundinho religioso.
É hora de parar de brincar com a graça dos outros como se estivéssemos brincando com o farolete do Tio.
Vamos parar de simular pesca salvífica no aquário das outras igrejas, de pescar os já salvos, vamos para as ruas, as esquinas, as avenidas, as casas noturnas estão cheias de pessoas que precisam da graça de Jesus.
Vamos iluminar nas trevas e não disputar pela luz mais brilhante.
É lá que a graça é relevante, é lá que a graça é graça, Amazing Grace.

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