terça-feira, 22 de junho de 2010

Filhos de Abba

Ilustração

“...Desde que mudei para Nova Orleans, envolvi-me intensamente na única colônia de leprosos dos Estados Unidos.
Já estive lá muitas e muitas vezes. Vou de quarto em quarto visitando os leprosos, vítimas do mal de Hansem.
Em certa ocasião, enquanto ainda subia a escadaria principal, uma enfermeira veio correndo em minha direção e disse: “Você pode vir depressa orar com Yolanda? Ela está morrendo...”
Eu sempre carrego um frasco de óleo comigo para ungir quem precise e deseja. Subi até o quarto de Yolanda no segundo andar e sentei-me à beira da cama. Yolanda é uma mulher de 37 anos.
Cinco anos atrás, antes de a lepra começar a devastá-la ela deveria ser uma das criaturas mais estonteantemente belas que Deus criou. Não quero dizer apenas uma mulher graciosa, bonita ou mesmo atraente. Refiro-me ao tipo de beleza física cegante que faz as pessoas pararem na rua para contemplá-la.

Nas fotos, Yolanda tinha os olhos castanhos maiores, mais translúcidos e mais magnetizantes que eu já vira, encravados num rosto de rara beleza praticamente esculpido, um cabelo castanho bem longo até atingir a cintura delgada e um busto perfeitamente proporcional. Mas tudo isso “foi” assim.
Agora tem o nariz pressionado entre as faces. Sua boca está severamente contorcida. As duas orelhas estão distendidas. Ela não tem nenhum dedo em nenhuma das mãos, apenas dois pequenos tocos.
Um dos primeiros efeitos da lepra é perder toda a sensibilidade nas extremidades do corpo, dedos dos pés e das mãos. Um leproso pode repousar a mão em um fogão quente e em chamas e não sentir absolutamente nada; isso muitas vezes causa gangrenas e exige que o membro seja por fim amputado.
Yolanda tinha apenas esses dois pequenos tocos.
Dois anos antes, seu marido divorciou-se dela por causa do estigma social associado à lepra, e havia proibido seus dois filhos, rapazes de catorze e dezesseis anos, de visitar a mãe.
O pai era alcoólatra, e ainda por cima com freqüentes e violentas oscilações de humor, os meninos morriam de medo dele, então se submetiam sem questionar, por conseguinte, Yolanda estava morrendo uma mulher abandonada, desamparada.

Ungi Yolanda com o óleo e orei com ela. Quando me virei para tampar de novo o frasco do óleo, o quarto se encheu de uma luz brilhante. Estava chovendo quando entrei; nem levantei a cabeça para ver, mas disse: - “Obrigado, Aba, pela luz do sol. Aposto que vai animá-la”.
Quando me voltei para olhar de novo para Yolanda - e se eu vivesse até meus trezentos anos, nunca encontraria palavras para descrever o que vi - , o rosto dela parecia uma explosão solar sobre as montanhas, como mil raios de sol sendo lançados de seu rosto literalmente tão brilhante, que tive de proteger meus olhos.
Eu disse:
- Yolanda, você parece muito feliz.
Com seu leve sotaque mexicano ela disse:
- Ah, Estou tão feliz.
Então lhe perguntei:
- Você pode me dizer por que está tão feliz?
Ela disse:
- Sim, o Aba de Jesus acabou de me dizer que quer me levar para casa hoje.
Lembro –me vividamente das lágrimas quentes que começaram a rolar sobre minhas faces. Depois de uma longa pausa, simplesmente perguntei o que o Aba de Jesus dissera.

Yolanda disse:

Levanta-te, minha amada,
Formosa minha, vem a mim!
Para ti o inverno já passou,
Não mais haverá neve,
As flores florescem na terra,
Chegou o tempo de jubilosas canções.
O canto da rolinha
Está se ouvindo em nosso campo.
Levanta, minha amada.
Minha Yolanda, vem a mim!
Deixa-me ver seu rosto. E deixa-me
Ouvir sua voz, pois sua voz é doce.
E seu rosto é formoso.
Levanta-te, minha amada,
Formosa minha, vem a mim!

Seis horas mais tarde, eu pequeno corpo leproso foi absorvido no amor de seu Aba. Mais tarde, naquele mesmo dia, descobri com a equipe de funcionários que Yolanda era analfabeta. Jamais lera a bíblia, nem nenhum outro livro, em toda a sua vida. Certamente nunca repeti aquelas palavras a ela em nenhuma de minhas visitas. Fiquei, como dizem, abismado...”.
Extraído do livro: O Anseio Furioso de Deus de Brennan Manning.

Texto

Cantares 2:10-13 “...O meu amado fala e me diz: Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem.
11 - Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi;
12 - aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.
13 - A figueira começou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem...”.

Nova versão internacional: “...O meu amor está falando comigo.
11 - O inverno já foi, a chuva passou,
12 - e as flores aparecem nos campos. É tempo de cantar; ouve-se nos campos o canto das rolinhas.
13 - Os figos estão começando a amadurecer, e já se pode sentir o perfume das parreiras em flor. Venha então, meu amor. Venha comigo, minha querida...”.

Introdução Histórica

Sabe qual a forma mais ouvida pelos discípulos de tratamento entre Jesus e Deus?
Abba!
Abba que significa: papai, papá, tatá, meu querido pai, paizinho.

Sabe qual a fora aprendida e ouvida pelos discípulos, antes de Jesus, da evocação de Deus?
Javé!
Javé – Aquele que existe. – meu Senhor, Senhor, expressão de referência.

Texto

Lucas 11: 1-2a “...Um dia Jesus estava orando em certo lugar. :Quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: - Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
...Ele lhes disse: - Quando orares dizei: Pai... (Abba)...”

Paizinho, Papai, Papá, Tatá, meu querido Pai...

Obviamente havia um conflito entre o que eles aprenderam sobre religião e a forma como Jesus se relacionava com “Javé”...

Algo novo, estranho, aparentemente desrespeitoso e herético, mas que trazia uma paz, um ambiente jamais experimentado por eles antes de Jesus. Percebiam a presença de “Javé” bem ali... e sem os “raios e trovões” de sua presença. Uma presença doce, amável, próxima, íntima, pessoal, totalmente desejável.
Embora usaram o argumento de que um discípulo deve aprender com seu mestre a orar, como João e os seus discípulos, eles queriam mesmo era experimentar “aquilo”...
Como no relacionamos com Deus?
Quais são os nossos sentimentos reais quando falamos com Deus em oração?
Seja honesto consigo mesmo, você já sabe para onde caminharemos nessa mensagem, não responda de pronto, responda de verdade, com a alma ferida, distante do Abba...
Como é o nosso relacionamento com Deus?
Temos um?
Tenho observado em meus dias como líder de uma comunidade que as pessoas têm mais dificuldade em se relacionar com Deus, do que seguir regras rígidas, impostas por homens, com relação a fé, ou o que chamo de “falsa santificação”.
É mais fácil chamar Deus de “Javé” de “Senhor” do que de “Papá” Paizinho...
Javé ou Senhor não seria para nós a forma de superficializar nossa religião?
Pode parecer respeitoso, grandioso, um alto reconhecimento da divindade e poder divino sobre o homem mas:
Não seria uma forma de separação?
Ou é “Senhor” ou é “Paizinho”.
“Senhor” é posse de escravo sem direito a escolha, com castigos pelos erros, ainda que voluntária não é uma prisão espiritual cujas cadeias quebramos a cada pecado?
Porque é tão difícil receber o “Abba”?

A Falsa Santificação.

Como é que sou aceito como filho se não obedeço nem como escravo?
Como Deus pode me ver se minha aparência é detestável de pecado?
Impossível conceber ser aceito apesar de todos os meus erros...
Essa é a falsa santificação, implacável, castigadora e ditatorial, usada pelos mais diversos líderes e seguidores, na mais diversas religiões existentes, e principalmente no cristianismo.
Quem dera que nossa perseguição fosse por sermos cristãos, mas infelizmente, é por sermos chatos mesmos, arrogantes, insensíveis ao ser humano, duros de coração, manipuladores da fé, por sermos críticos do mundo ao invés de luz do mundo.
Quem dera fôssemos perseguidos, hoje em dia somos perseguidores, apontamos o dedo facilmente, criticamos o que não está no “padrão espiritual”.

Filhos de Abba.

O princípio de Jesus em sua comunhão nunca foi o “Javé” o “Senhor”, foi sempre o “Abba” o Papaizinho querido.
Não é uma novidade do Novo testamento se contrapondo ou alterando o Velho, todos que perceberam essa posição de “Abba”, foram percebidos por Abba:
Gênesis 5:24 - Enoque, que sumiu foi levado embora para Deus, diz a escritura que Deus o levou para si, Enoque “andava com Deus”...
Êxodo 33: 11 - Moisés conversava com Deus e Deus conversava com ele como se conversa com um amigo...
Isaías 41:8 – Abraão foi chamado por Deus de“ Meu Amigo”...
Atos 13: 22 – Davi foi considerado por Deus “Homem segundo o seu Coração”.
Não são super-homens, apenas homens que pularam nos braços de seu Abba, aceitaram seus estados de pecado, e apesar disso não fugiam de “Javé”.

Corriam para Abba.
Andavam com Abba.
Dançavam para Abba.
Cantavam para Abba.
Não dariam um passo sem a presença de Abba.
Conversavam com Abba como amigos, e eram.
Ouviam as batidas do coração de Abba.

Não se preocupavam com postura litúrgica, com aparência religiosa, adoravam ir ao Templo, não porque encontrariam Deus ali, mas porque queriam professar diante dos homens sua fé como filhos de Abba.
Não queriam mostrar para as pessoas que eram especiais, queriam que as pessoas desejassem ser filhos de Abba.

Foi o que Jesus realizou em seus discípulos:
“... - Nos ensine a falar com seu Abba...”.
O mais incrível e desejável, Jesus ensinou:
“... – Comecem chamando-o de “Abba”, não de “Javé”...”.
“...Se vocês querem orar como eu oro chamem-no de Abba, Ele vai gostar bastante...”.

Paizinho, Papai, Papá, Tatá, meu querido Pai...

Desfecho – Cantares 2:10-13 – Nova versão internacional:
10 - “...O meu amor está falando comigo.
11 - O inverno já foi, a chuva passou,
12 - e as flores aparecem nos campos. É tempo de cantar; ouve-se nos campos o canto das rolinhas.
13 - Os figos estão começando a amadurecer, e já se pode sentir o perfume das parreiras em flor. Venha então, meu amor. Venha comigo, minha querida...”.

Palavras que estudiosos afirmam terem sido ditas para Jesus por Seu Abba antes de dizer:

“...Abba, nas tuas mãos entrego o meu espírito...”. Lucas 23:46

Parafraseando o Cantares de Yolanda:

Levanta-te, meu amado
Formoso meu, vem a mim!
Para ti o inverno já passou,
Não mais haverá neve,
As flores florescem na terra,
Chegou o tempo de jubilosas canções.
O canto da rolinha
Está se ouvindo em nosso campo.
Levanta, meu amado.
Meu Filho amado, vem a mim!
Deixa-me ver seu rosto. E deixa-me
Ouvir sua voz, pois sua voz é doce.
E seu rosto é formoso.
Levanta-te, meu amado,
Formoso meu, vem a mim!

Comece por Abba...

Os “heróis da fé” como são chamados, na realidade “filhinhos de Abba”, descobriram, viveram e hoje estão com seu Abba.
Yolanda conheceu o Abba de Jesus e hoje ela está em casa, linda, perfeita, feliz nos braços seu Abba.
O que eu mais quero em minha vida é viver no colo de meu Abba, acima de tudo, quero experimentar, a cada dia vivido, tudo que Ele representa como “Meu Abba”.
Jesus nos ensinou:
- Comece por Abba, Ele vai gostar bastante e você terá uma feliz e insuperável surpresa!

Comece por Abba.
Comece...

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